Duelos de banco

Jorge Jesus venceu Vítor Pereira no jogo táctico e conseguiu empatar no Estádio do Dragão. O Benfica esteve a perder por duas vezes, igualando partida, com golos de Cardozo e Gaitán. Pelo FC Porto marcaram Kléber e Otamendi.

Com o estádio praticamente lotado, o FC Porto entrou melhor em jogo. No primeiro minuto, um remate de Hulk de fora da área trouxe o perigo à defesa encarnada. O brasileiro volta a estar em destaque aos 10 minutos, deixou para trás Javi García e Witsel e voltou a assustar o guarda-redes Artur, numa jogada individual e “incrível”.

O Benfica mostrava-se então lento a reagir mas sempre sem perigo para a defesa do Porto. Perto da meia hora o FC Porto quase marcava por intermédio de Fucile, o que conseguiu aos 37 minutos por Kléber, dando assim justiça ao resultado.

A segunda parte iniciou com o empate. Cardozo aproveita a desatenção da defesa do FC Porto e empata a partida, ficando o jogo mais animado. Ainda o Benfica saboreava o empate e já Otamendi marcava o 2-1. Na sequência de um canto curto, Varela centrou para o central argentino, que só teve de encostar.

A partir do 2-1 o jogo tornou-se confuso. O FC Porto tentava controlar a posse da bola, mas a verdade é que não o conseguia fazer com facilidade de outros tempos, Hulk já não corria, o meio campo não segurava a bola e Vítor Pereira não mexia na equipa.

Jorge Jesus, na tentativa de refrescar o ataque e de pôr uma peça mais próxima de Cardozo, colocou em campo Bruno César e Saviola, para o lugar de Nolito e Aimar. No outro banco, Vítor Pereira trocou Guarín e Kléber por Belluschi e Cristián Rodriguez. Saiu vencedor da batalha táctica, o treinador do Benfica. Saviola entrou muito bem e Guarín saiu extremamente mal, Jesus melhor nas suas apostas.

Com estas substituições, o Benfica fica mais forte, dos jogadores do banco sai o passe para o golo do empate e o FC porto sem soluções práticas e tácticas para responder. O resultado acaba por ser justo, pois a equipa não é só formada de jogadores, a estrutura técnica é muito importante, ainda para mais num jogo deste calibre.

(Texto: Joana Gomes)

Futebol Portugal

Há muito faço parte do site Futebol Portugal. Actualmente, depois de profundas mudanças, o projecto está diferente e quer vingar na blogosfera.

Tendo como base o lado positivo do jogo, abordando categorias diversas (análise táctica, scouting, história, estádios, estatística, arbitragem, direito desportivo, finanças, notícias, etc.), contando com uma equipa que reúne os melhores bloggers de futebol e elementos com profunda ligação profissional a este desporto, o Futebol Portugal procura mudar o paradigma do relato do fenómeno desportivo em Portugal, apresentando duas características pouco vistas até hoje: qualidade e independência de pressões corporativas.

O web-site estará ainda a passar por algumas modificações gráficas, mas temos já um conteúdo assinalável para que o leitor possa dedicar a sua atenção.

É sobretudo lá que me encontrarão. Vale?

Geração Coragem

O português gosta de recordar. Abre a caixinha das medalhas, limpa-lhe o pó com altivez, derrete-se por dentro e deixe que a mente o leve para outros tempos. O orgulho por tudo aquilo é descomunal, a emoção enche-lhe o espírito e a saudade deixa-o tristonho e meio perdido. A saudade é um sentimento estranho: carrega pensamentos diferentes, vontades opostas, tanto pode fazer chorar por nunca mais repetir o que se recorda como inspirar a deixar tudo e lutar por voltar a ter as mesmas sensações.

Só que, lá está, o português tem orgulho no que já tem junto de si. Ganhou, foi o maior e esqueceu-se que os campeões continuam a existir com os anos – mais trabalho para quê? Chegou onde queria e, pronto, missão cumprida. Depois vive da recordação, da saudade e dos pensamentos. Recordar é viver, diz-se por aí. Será mesmo? O orgulho fica para sempre, os feitos também, mas a vontade de ir ainda mais longe, de quebrar todos os limites, pára à primeira conquista. São os serviços mínimos.

Portugal construiu um caminho na formação de jogadores, abriu mundos, catapultou talentos, soube trabalhá-los e ganhou com isso. Em 1989 e 1991, em Riade e em Lisboa, conquistou dois títulos de juniores. Saltou, sorriu e deu graças. Estava no trilho certo, de sucesso. E depois, porque já tinha algo para recordar mais tarde, sossegou. Achou que estava tudo feito, contentou-se com os dois títulos e entrou noutra rota. A formação ficou para trás e caiu das preocupações. Por que não tentar rechear a caixinha?

Actualmente, em 2011, vinte anos depois do último título, Portugal é um dos países que mais jogadores importa, tem um campeonato multinacional, menos de metade são portugueses e a selecção ressente-se. Mas é nestas coisas que o futebol gosta de ser diferente, de pregar partidas e dispensar a lógica. E Portugal, sem ninguém ousar sequer falar nisso, sem estrelas de cartaz mas com jogadores competentes e briosos, chegou à final do Mundial sub-20. Com consistência, com entrega, com solidariedade, com talento e com felicidade. Ílidio Vale montou uma verdadeira equipa, onde Mika, Nuno Reis, Danilo e Nélson Oliveira sobressaíram. Geração Coragem, disse o treinador. E ninguém, por certo, se atreve a discordar.

Portugal chegou à final, outra vez com o Brasil, como há vinte anos, voltou a ter de ir a prolongamento, evitou a agonia das grandes penalidades, mas terminou vergado e vencido pelos brasileiros. Não ganhou o terceiro título: e, então, fica alguma coisa para aproveitar?

Fica, pelo menos, a coragem, a garra e esperança demonstradas para deixar de estar… à rasca. Fica a certeza de que, embora tapado ou encoberto, há potencial para explorar. E que a saudade, essa coisa estranha, realmente pode ser inspiradora rumo ao futuro: dentes cerrados, peito feito e vontade de lutar. Sem ter de ser preciso passar a vida a olhar para a caixinha das recordações…

Supertaça Europeia: Crónica

BARCELONA – FC PORTO, 2-0 (CRÓNICA)

Quem mede um metro e oitenta, quer medir um metro e oitenta e um. Quem sabe contar até cem, quer saber contar até cento e um. Olha para os outros, vê e quer ser ou fazer igual. Porque assim dá-se melhor consigo, está mais próximo do que idealiza e sente que tem como chegar mais além. Esforça-se e arrisca. É como um jogador de futebol: se faz uma finta, quer fazer duas, três, olé, quantas mais melhor, sair pela pronta grande. Deslumbra-se, tudo é belo, nada o pode parar. Será mesmo?

Freddy Guarín é um jogador importante no FC Porto, cresceu como poucos, transfigurou-se de uma época para a outra. É capaz, é forte e sabe o que faz. Mas é mortal. Tem, como muitos, a tentação do pecado de querer fazer sempre mais, sempre melhor e sempre mais bonito. Dar-lhe ali um toque, uma coisa mínima, só mesmo para ficar nos trinques. Contra o Barcelona, olhou para o adversário, gostou e quis experimentar. Quis sair a jogar, fintou, mais do que uma vez, esforçou-se, não lhe correu bem e ofereceu a bola a Messi. O argentino estava ali como quem não quer a cosia, sorriu, muchas gracias, contornou Helton e marcou. Simples.

O golo de Messi na baliza de Helton teve o mesmo efeito que um gume frio e letal de uma espada que entra num corpo de um guerreiro. O FC Porto fora bravo, destemido, recusara-se a prestar vassalagem: olhos nos olhos, venha de lá esse Barcelona, armas prontas e luta. Deixou boas indicações, assustou Victor Valdés e mostrou que queria ser feliz. Tentar sê-lo, pelo menos. Teve boa atitude, organização e soube os terrenos que pisou. Até que chegou, aos trinta e nove minutos, o momento fatal. Porque, como disse Mark Twain, algumas pessoas nunca cometem os mesmos erros duas vezes: descobrem sempre novos erros para cometer.

O Barcelona pôs a mão no jogo, no resultado e no relógio. Passes à velocidade da luz, tentativa de ataque, ímpetos azuis refreados e presença senhorial. Jogo fluído e simples – mas nunca mágico e envolvente como hábito. Em desvantagem, o FC Porto teve que correr atrás, que afrontar o Barça, que insistir e que tentar impedir que, com os minutos, o carrossel espanhol tudo devorasse. Intrometeu-se, fez o que pôde e não se rendeu. Nem podia. Só que Cristian Rodríguez não teve a explosão que se pretendia, Hulk foi bem tapado, o meio-campo blaugrana assentou no portista e Kléber nunca teve jogo. Então, como fazer?

O dragão soube das dificuldades, não as negou, mas tentou viver com elas, ultrapassar as fragilidades e colocar-se ao lado do todo-poderoso. O adepto suspira, bate com o pé, rói as unhas, se não fosse aquela asneira do Guarín…, mas, não, nada há a fazer e nestas coisas, principalmente com este Barcelona, parece que há sempre qualquer coisa, vinda sabe-se lá de onde, que simplifica e deixa a equipa espanhola no caminho do sucesso. O FC Porto teve sempre cabeça erguida. E pode queixar-se de uma grande penalidade que o árbitro, Bjorn Kuipers, deixou passar em claro, por falta de Abidal sobre Guarín, embora, antes, tenha travado um ataque prometedor a David Villa.

As pernas portistas sentiram o esforço, a mente pediu descanso, os olhos reviraram-se com o jogo do Barcelona. Vítor Pereira tentou agitar, lançar novos trunfos, baralhou e… baralhou-se. As substituições de Kléber e Souza, por Belluschi e Fernando, nada acrescentaram e foram pouco percebíveis. O FC Porto sentiu o cansaço, deixou que as emoções lhe tomassem o pensamento e perdeu capacidade. Terminou com nove, por expulsões de Rolando e Guarín, viu Fabregas marcar o segundo golo do Barça e finalmente, depois dessa desfeita, assinou o acordo de paz. Knock-out, vitória do Barcelona. Mais uma. Sem surpresa.

Um dragão no reino do super-Barça

O topo do mundo futebolístico tem um nome: Barcelona. Tudo o resto, seja por que razão for, está num patamar inferior. Uns perdem pela qualidade individual, outros perdem por não ter um colectivo com tamanha força e ainda aqueles que, tendo potencial e jogando bem, não conseguem aliar a arte aos resultados. O Barcelona é tudo isso: portentos, carrossel, dinâmica, intensidade, magia e uma eficácia impressionante. Um futebol de requinte.

Quem começar um jogo com o Barcelona, sabe, à partida, que será subjugado na posse de bola, andará largos períodos a seguir a bola com o olhar e terá de conseguir nervos de aço para não se irritar com aquele futebol envolvente. Passa, repassa, um toque, uma habilidade, mais uma vez, processo no início, tempo a passar, músculos a pedir descanso, mente a ficar saturada. Ao jogar com o Barcelona, é preciso saber lidar com tudo isso. Não é uma equipa imbatível, tem jogos pouco inspirados e também perde. Só que acontece poucas vezes. E, mesmo nessas, há que contar com o tal tiki-taka.

O FC Porto enche o peito, puxa pelos galões de vencedor da Liga dos Campeões e vai à luta. É uma boa equipa, mesmo depois de ter perdido o goleador, está orfã de Radamel Falcao, mas tem os seus argumentos, possui boas armas e pode, pelo menos, ousar ser feliz. Alguém há-de acreditar, há-de ter esperança. Pensamento derrotista é que não. O Barcelona é de outro mundo, tem uma galáxia à parte, trucida colossos como Real Madrid ou Arsenal e consegue dominar os ímpetos do Manchester United. Mas, lá está, não é imbatível. E é precisamente a isso que o dragão se agarra.

Pep Guardiola não terá a dupla de centrais, nem Puyol nem Piqué, para o jogo de hoje. Isso pode ser um bom indício? Bem… Realistas? Não. É verdade que a defesa com Mascherano e com Abidal no centro não é a mesma coisa, mas mesmo assim a qualidade mantém-se e a dinâmica colectiva nunca se altera. O FC Porto tem, antes de mais, de saber estar. Entrar em campo, fazer o seu jogo, desfrutar de uma oportunidade única de defrontar uma equipa sem paralelo na actualidade e procurar a sua sorte. Porque, se quiser não o conseguir, ninguém lhe apontará o dedo, afinal já outros, com muito mais responsabilidades, tombaram perante o Barça.O pior será não tentar fazê-lo.

O FC Porto tem Hulk, tem Kléber, tem Varela, tem Moutinho e tem Guarín. E é com esses que tem de querer sonhar.

Panenka. Antonín Panenka.

Bola debaixo do braço, olhar descontraído, confiança total. Os outros que estão na bancada roem as unhas, desesperam, puxam pelos cabelos, pelos cigarros, vai tudo à frente. O coração bate, as veias pulsam, o sangue aquece, aquele ritmo está louco, o suor já escorre. Acaba lá com isso, que ansiedade. Está tudo à beira do colapso. Aguenta, coração. Não falhes, vá lá, marca.

Mas não há pressa. Devagar dá para sentir o momento e para entrar no espírito. A sensação é louca, pura diversão. Passo lento, calma, ar de quem já fez aquilo vezes de mais. Olha para o guarda-redes, lança-lhe um sorriso de desprezo, imagina-se como um agente secreto a enfrentar o maior perigo que por aí anda. Ele é Panenka. Antonín Panenka.

Um país inteiro está a pressionar as costas daquele homem. É uma final, não há volta a dar. Antonín pousa a bola, recua e espera que o mandem avançar. Aquele instante dá um calafrio na barriga, junta o pânico com a adrenalina, é uma mistura explosiva carregada de perigo iminente. Inquietude sem fim. Sepp Maier enche a baliza e tem-no marcado.

Soa o apito. É agora. Os checos arregalam os olhos, suspiram e anseiam por um golo. Basta-lhes um remate forte, colocado, longe do guarda-redes e já está. Depois é só festa, só glória, só champanhe. Não é preciso inventar. Mas é nestes momentos que aparecem os loucos. A loucura apetece quando o risco é maior.

Panenka corre, sente um raio de luz sobre si, lembra-se de todos aqueles que escreveram que a loucura é indispensável e faz o que ninguém tinha feito. Pega a bola por baixo, levando-a a subir e cair no meio da baliza. Herr Sepp tomba, olha para o lado, está perto mas é impotente. Não consegue fazer nada. Os checos correm. Ganharam e isso é o que interessa. Mas para Antonín Panenka, jogador mediano, tudo mudou: inventou uma nova forma de marcar penalties, foi mais louco do que todos os outros, desafiou as regras e eternizou-se.

A Checoslováquia ganhou o Europeu de 1976. Antonín Panenka ganhou a História. Quem ganhou mais? Muitos devem dizer que foi o futebol. Porque loucos destes não aparecem todos os dias.

Reportagem: Liga multinacional?

REPORTAGEM: Uma Liga portuguesa? Ou multinacional?

O FC Porto ganha em Dublin. Jorra o champanhe, festeja a Liga Europa e saboreia o gosto da conquista. Os jogadores portistas saltam, correm, sorriem, tiram fotografias. Mil e um abraços, obrigados ao público, uma alegria imensa em cada um deles. Juntam cachecóis, envolvem-se em bandeiras e enviam mensagens para casa. Para a América, para África, para outro extremo da Europa. Bandeiras do Uruguai, da Colômbia, de Cabo Verde e, até, da Madeira. De Portugal, zero. E, no entanto, o vencedor foi um clube português. Melhor: os dois finalistas saíram de Portugal. E nenhum lá colocou uma bandeira, uma marca, um símbolo.

A imagem de Dublin, na final da Liga Europa, é perfeita para mostrar como está actualmente o futebol português. Outro exemplo foi dado há pouco tempo, já nesta temporada, no jogo do Benfica com os turcos do Trabzonspor, na terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões: um onze, uma equipa, várias nacionalidades e nenhum, nem um único, representante português. Jorge Jesus encolheu os ombros, viu o caso com naturalidade, algo que é como é e não vale a pena questionar. Porque, disse o treinador, é um efeito da globalização. Não há barreiras e todos circulam. Os portugueses jogam no estrangeiro e os estrangeiros jogam em Portugal.

Uma equipa portuguesa que joga sem portugueses deve ser criticada? O tema é vasto, pode ser encarado de diversas formas e as opiniões são distintas. Há, por certo, quem aponte, como Jorge Jesus, a globalização como explicação e, por isso, tudo bem, nenhum problema, é a coisa mais natural. Outros, mais cépticos, defendem, como os principais organismos já discutiram, a criação de um sistema que limite o número de estrangeiros por cada plantel – porque há jogadores nacionais com valor e porque a selecção sai sempre prejudicada. Esta é, porventura, a tese com mais força.

Na próxima edição do campeonato português, mais de metade dos jogadores inscritos são estrangeiros. Os sul-americanos dominam: Brasil, Argentina, Uruguai, por exemplo, têm uma larga percentagem de representantes em Portugal. Actualmente, é visível, até, uma mudança de política no Sporting, depois de anos a fio recorrendo a jogadores provenientes da formação do clube. Feirense, Vitória de Setúbal, Gil Vicente ou Rio Ave são os clubes que se distinguem pelo facto contrário e apostam em jogadores portugueses, sobretudo jovens, abrindo caminho à progressão das suas carreiras. E um dado curioso: os dezasseis treinadores são portugueses. Faz confusão?

Pedro Henriques: “Deve limitar-se este exagero”

Pedro Henriques, antigo jogador profissional e actual comentador, olha para esta realidade com tristeza. A razão de ser, no seu entendimento, é simples: “Os clubes optam por jogadores estrangeiros porque é necessário comprar, já que a chamada “máquina” precisa de dinheiro para funcionar e é nas transferências que o dinheiro é movimentado.  Daí a especial apetência para a América do Sul, onde os valores de transferência são sempre fáceis de trabalhar“. Mas a selecção, refere, fica prejudicada, “devido à escassez de seleccionáveis”.

Na opinião de Pedro Henriques, não raras vezes, chegam a Portugal jogadores de qualidade duvidosa: “Claro que alguns valem a pena, mas existem jogadores portugueses que, se lhes fossem dadas as mesmas oportunidades, também seriam casos sérios no nosso futebol”, diz. Só que o negócio ganha destaque, ultrapassa a vertente desportiva e é prioridade. De acordo com Pedro Henriques, “um jogador português, normalmente da formação, não movimenta verbas aliciantes aos vários intervenientes nessas operações” e isso justifica a aposta noutros mercados. “É uma galinha dos ovos de ouro”, atira.

Importa, por isso, pensar em novas estratégias, em novas formas de actuar e de não possuir um completo sistema de porta aberta  que torne os campeonatos, como o português, o inglês ou o cipriota, marcados por múltiplas nacionalidades. Para Pedro Henriques, “os sindicatos de jogadores e treinadores, a Federação Portuguesa de Futebol, a Liga e antigos jogadores com ligação aos seus clubes deveriam juntar-se para debater ideias e regras que, de certa forma, limitassem este exagero, tentando criar um número mínimo de jogadores portugueses”. É uma ideia. Possível ou utópica?

FUTEBOLÊS: Pela temporada que realizou no ano passado, mesmo tendo perdido três peças importantes (Quim, Di María e Ramires), o Benfica mantém-se na pole-position na corrida ao título ou o início de época com o pé esquerdo baralhou as contas?
BERNARDINO BARROS: A entrada do Benfica na prova não me surpreende, pois cometeu um erro de avaliação na “substituição” de duas peças importantes, Ramires e Di María. O Benfica foi campeão jogando bem e ganhando com aparente facilidade e logicamente “vendeu” mais. Vendeu sucesso, ilusões e jogadores. A base da continuidade no sucesso depende da forma como se colmatam as saídas, e creio que o Benfica não soube posicionar-se no mercado para “substituir” Di Maria. Não sei se ainda irá a tempo de preencher essa vaga (não é nada fácil), mas há que acreditar na capacidade de Jorge Jesus, que tem de demonstrar “jogo de cintura” para adaptar o modo de jogar da equipa de acordo com as características dos seus jogadores. O Benfica tem tudo do seu lado: continuidade do treinador, duas saídas apenas (David Luiz poderá sair?) e a força dos adeptos (apesar dos assobios na primeira jornada) para continuar na primeira linha da corrida ao título. Com o tempo, o Benfica vai entrar na onda das vitórias mas sem o brilhantismo da época passada, até porque já ganhou e há jogadores que não têm enraízado o hábito de querer ganhar sempre.

O Sp.Braga é uma equipa diferente. Terá capacidade para se intrometer na luta pela conquista do campeonato?
O Sp. Braga vem no mesmo seguimento do Benfica. Continuidade do treinador, logo de métodos e princípios, continuidade do núcleo duro do plantel e reforço em qualidade e quantidade do mesmo, sendo por isso uma equipa que poderá fazer o mesmo percurso de sucesso do ano transacto. A acrescer a isto junte-se uma massa associativa cada vez mais perto da equipa (longe vai o tempo em que o presidente António Salvador se queixava da fraca presença de adeptos) e estão reunidos os ingredientes para nova época digna de Guerreiros do Minho. Acredito na capacidade de Domingos Paciência para altos voos e nem mesmo uma possível eliminação da fase de gruois da Champions vai ser motivo de desilusão.

O FC Porto, com uma nova cara, poderá voltar a assentar o seu domínio?
O FC Porto tem novos jogadores e novo técnico, por isso tem que construir de início e com novos métodos. Entrou bem no campeonato e em fase de mudanças entrar a ganhar (e jogar bem) é meio caminho andado para entrar no comboio que o leve ao topo. Urge, no entanto, dar andamento aos dossiês parados (dispensas ou não de Raúl Meireles e Fucile) e encontrar mais um avançado para fazer companhia a Walter e Falcao, além de acertar a compra de um central de qualidade. O resto está lá: vontade de recuperar o título, organização e um treinador com ideias mais frescas e com um futebol mais pressionante e mais ofensivo. É um candidato assumido ao título como denota a sua entrada na competição.

Crónico candidato ao título, desastrado na época anterior, com novos princípios mas uma estreia amarga: o que se pede ao Sporting?
O Sporting começou mal mas não o excluo da candidatura ao título. Falhou muitos golos e em campo difícil teve arte e engenho para os construir, o que ás vezes é o mais difícil. Paulo Sérgio é um técnico jovem, ambicioso e muito exigente. Há que dar tempo aos jogadores para a adaptação a novos métodos e a nova forma de jogar. A falta de liquidez financeira obriga também a que os leões comprem a conta-gotas e disso se pode vir a ressentir a construção rápida de um conjunto forte.

As contas do título passarão por estas quatro equipas. O que esperar das restantes? Alguma surpresa?
Já não há lugar para muitas surpresas no futebol e para além da luta pelo título, onde estarão Benfica, Sp. Braga, FC Porto e Sporting, haverá a habitual luta pelos lugares europeus. Nessa corrida candidatam-se várias equipas por inerência – Vitória de Guimarães, Marítimo e Nacional -, acreditando que pelo que fizeram nesta primeira jornada possamos acrescentar Académica e Olhanense (grande jogo). Não descartar a capacidade que equipas como o Rio Ave e Vitória de Setúbal possam vir a demonstrar ao longo da temporada, pois são treinadas por dois experientes treinadores e o plantel das duas equipas tem qualidade. As restantes equipas lutarão pela manutenção.

HEXA EM 2014



Primeiro tempo magnífico: lançamento de gênio do meio-campo por Felipe Melo, conclusão perfeita de Robinho. Terminando os primeiros quarenta e cinco minutos, a seleção de Dunga se credencia como a principal favorita para vencer a Copa do Mundo da África. O Brasil passeava em campo, em cima de uma seleção que não perdia desde 2008. Depois, acaba o segundo tempo. Brasil eliminado, treinador burro, Felipe Melo vilão da derrota, time sem criatividade com um atacante firuleiro e pouco objetivo: Robinho. Foram dois jogos dentro de um. Um primeiro tempo onde o Brasil mandou no jogo, fez um gol, mas poderia ter feito três. No segundo tempo a Holanda foi superior e não seria nenhum absurdo se tivesse goleado o time brasileiro.



O clima em Porto Alegre foi de muita decepção após a partida. O povo gaúcho, diferentemente do restante do país, não vibra tanto com a seleção brasileira. No entanto, em 2010 houve uma maior mobilização, motivada em grande parte por ser um gaúcho o comandante do grupo. Além disso, a campanha anti-Dunga do centro do país, serviu como combustível para os gaúchos apoiarem ainda mais o técnico da seleção brasileira. Para boa parte dos gaúchos, no entanto, a tristeza durou aproximadamente três horas, quando Loco Abreu cobrou o último pênalti do Uruguai na vitória heróica dos vizinhos sobre a seleção da Gana. Os gaúchos voltaram a ter uma equipe para torcer.

A frustração da derrota na Copa da África foi diferente da última eliminação em 2006, quando o Brasil foi eliminado também nas quartas de final. Nesta Copa, embora grande parte da imprensa afirmasse que a seleção de Dunga tinha uma morte anunciada, pouca gente realmente acreditava na derrota brasileira, ainda mais depois do primeiro tempo da partida contra a Holanda. Ficou a sensação de que o Brasil poderia ter ido mais longe. Na Alemanha em 2006, por exemplo, foi unanimidade que o Brasil não merecia a classificação.



Voltando ao jogo contra a Holanda, excetuando alguns poucos jornalistas, a imprensa tratou a eliminação brasileira como um fracasso. As críticas que Dunga recebeu quando saiu do Brasil foram atenuadas durante a Copa e voltaram em dobro após o jogo contra a Holanda. A falta de jogadores diferenciados e a opção por jogadores em má fase em seus clubes foram as principais contestações, além das restrições ao trabalho da imprensa durante os treinamentos na África.



Realmente faltou talento no time. Alguns jogadores estavam em má fase, mas mesmo assim, o Brasil tinha plenas condições de trazer o hexacampeonato. A última Copa foi um claro exemplo de que um time bem organizado e com disciplina tática vale mais do que individualidades. A Itália de 2006 não tinha nenhum Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo ou Adriano e foi campeã, enquanto o Brasil caiu fora para a França de Henry e Zidane. Não foi por ter deixado de levar Ganso ou Neimar que o Brasil perdeu. A Copa do Mundo é um torneio diferente. Não é um campeonato em que há tempo de se recuperar de um erro. A partir das oitavas de final, a eliminatória é decidida em um jogo e uma falha é fatal, não pode acontecer. Um momento de desatenção ou desequilíbrio não dá chance de recuperação. Foi o que aconteceu com o Brasil.

Nessa partida, a Holanda voltou melhor no segundo tempo, mas não ameaçou o gol brasileiro, até que em um cruzamento despretencioso o goleiro Júlio César, que tantas vezes salvou o Brasil, cometeu uma falha grave e a bola entrou. Muitos atribuíram o erro a Felipe Melo, mas o erro foi do goleiro. Felipe Melo estava na bola quando Júlio César veio por cima, deslocando o volante brasileiro; por isso, a cabeçada saiu para trás. Pela imagem da televisão, nota-se que o goleiro grita “Minha!”, só que em uma hora daquelas o jogador não sai da bola para o goleiro agarrar se ele sabe que está na bola. O erro foi de Júlio César e o gol abalou o time. O segundo gol da Holanda veio ao natural.



Não foi apenas no gol que Felipe Melo se fez presente. Faz tempo que toda opinião pública alerta para o temperamento do jogador. Ainda assim, ele deu razão a todos que o criticavam. Felipe Melo não tem condições psicológicas de jogar em um grande clube, o que dizer na seleção mais vencedora do mundo. Apostar nesse jogador, apesar de sua terrível fase na Juventus, foi o maior erro de Dunga. Errou ao apostar em Felipe Melo e também ao não contar com um jogador de talento como Ronaldinho ou Ganso. Só que neste erro ele não está sozinho. O planejamento no ano da Copa foi equivocado. O último amistoso antes da convocação foi no início de março. Dunga não queria convocar jogadores que não haviam estado na seleção, por isso, deveria ter sido feito algum amistoso mais perto do dia da convocação, para exatamente testar jogadores que estavam atuando no Brasil e em destaque nos seus clubes.



Para a Copa de 2014 deve ser feita uma reformulação no elenco, já que a maioria dos jogadores desta seleção tem mais de trinta anos. A saída de Dunga está certa, pois jogando em casa não podemos ter um técnico com tanta reprovação por parte da torcida. O Brasil tem uma safra de jogadores de muito talento que devem chegar ao auge em 2014, como Ganso, Neimar, Mário Fernandes, etc. O planejamento deve ser bem pensado, pois, sendo o anfitrião, o Brasil não terá as eliminatórias sul-americanas como parâmetro.

HEXA EM 2014



Primeiro tempo magnífico: lançamento de gênio do meio-campo por Felipe Melo, conclusão perfeita de Robinho. Terminando os primeiros quarenta e cinco minutos, a seleção de Dunga se credencia como a principal favorita para vencer a Copa do Mundo da África. O Brasil passeava em campo, em cima de uma seleção que não perdia desde 2008. Depois, acaba o segundo tempo. Brasil eliminado, treinador burro, Felipe Melo vilão da derrota, time sem criatividade com um atacante firuleiro e pouco objetivo: Robinho. Foram dois jogos dentro de um. Um primeiro tempo onde o Brasil mandou no jogo, fez um gol, mas poderia ter feito três. No segundo tempo a Holanda foi superior e não seria nenhum absurdo se tivesse goleado o time brasileiro.



O clima em Porto Alegre foi de muita decepção após a partida. O povo gaúcho, diferentemente do restante do país, não vibra tanto com a seleção brasileira. No entanto, em 2010 houve uma maior mobilização, motivada em grande parte por ser um gaúcho o comandante do grupo. Além disso, a campanha anti-Dunga do centro do país, serviu como combustível para os gaúchos apoiarem ainda mais o técnico da seleção brasileira. Para boa parte dos gaúchos, no entanto, a tristeza durou aproximadamente três horas, quando Loco Abreu cobrou o último pênalti do Uruguai na vitória heróica dos vizinhos sobre a seleção da Gana. Os gaúchos voltaram a ter uma equipe para torcer.

A frustração da derrota na Copa da África foi diferente da última eliminação em 2006, quando o Brasil foi eliminado também nas quartas de final. Nesta Copa, embora grande parte da imprensa afirmasse que a seleção de Dunga tinha uma morte anunciada, pouca gente realmente acreditava na derrota brasileira, ainda mais depois do primeiro tempo da partida contra a Holanda. Ficou a sensação de que o Brasil poderia ter ido mais longe. Na Alemanha em 2006, por exemplo, foi unanimidade que o Brasil não merecia a classificação.



Voltando ao jogo contra a Holanda, excetuando alguns poucos jornalistas, a imprensa tratou a eliminação brasileira como um fracasso. As críticas que Dunga recebeu quando saiu do Brasil foram atenuadas durante a Copa e voltaram em dobro após o jogo contra a Holanda. A falta de jogadores diferenciados e a opção por jogadores em má fase em seus clubes foram as principais contestações, além das restrições ao trabalho da imprensa durante os treinamentos na África.



Realmente faltou talento no time. Alguns jogadores estavam em má fase, mas mesmo assim, o Brasil tinha plenas condições de trazer o hexacampeonato. A última Copa foi um claro exemplo de que um time bem organizado e com disciplina tática vale mais do que individualidades. A Itália de 2006 não tinha nenhum Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo ou Adriano e foi campeã, enquanto o Brasil caiu fora para a França de Henry e Zidane. Não foi por ter deixado de levar Ganso ou Neimar que o Brasil perdeu. A Copa do Mundo é um torneio diferente. Não é um campeonato em que há tempo de se recuperar de um erro. A partir das oitavas de final, a eliminatória é decidida em um jogo e uma falha é fatal, não pode acontecer. Um momento de desatenção ou desequilíbrio não dá chance de recuperação. Foi o que aconteceu com o Brasil.

Nessa partida, a Holanda voltou melhor no segundo tempo, mas não ameaçou o gol brasileiro, até que em um cruzamento despretencioso o goleiro Júlio César, que tantas vezes salvou o Brasil, cometeu uma falha grave e a bola entrou. Muitos atribuíram o erro a Felipe Melo, mas o erro foi do goleiro. Felipe Melo estava na bola quando Júlio César veio por cima, deslocando o volante brasileiro; por isso, a cabeçada saiu para trás. Pela imagem da televisão, nota-se que o goleiro grita “Minha!”, só que em uma hora daquelas o jogador não sai da bola para o goleiro agarrar se ele sabe que está na bola. O erro foi de Júlio César e o gol abalou o time. O segundo gol da Holanda veio ao natural.



Não foi apenas no gol que Felipe Melo se fez presente. Faz tempo que toda opinião pública alerta para o temperamento do jogador. Ainda assim, ele deu razão a todos que o criticavam. Felipe Melo não tem condições psicológicas de jogar em um grande clube, o que dizer na seleção mais vencedora do mundo. Apostar nesse jogador, apesar de sua terrível fase na Juventus, foi o maior erro de Dunga. Errou ao apostar em Felipe Melo e também ao não contar com um jogador de talento como Ronaldinho ou Ganso. Só que neste erro ele não está sozinho. O planejamento no ano da Copa foi equivocado. O último amistoso antes da convocação foi no início de março. Dunga não queria convocar jogadores que não haviam estado na seleção, por isso, deveria ter sido feito algum amistoso mais perto do dia da convocação, para exatamente testar jogadores que estavam atuando no Brasil e em destaque nos seus clubes.



Para a Copa de 2014 deve ser feita uma reformulação no elenco, já que a maioria dos jogadores desta seleção tem mais de trinta anos. A saída de Dunga está certa, pois jogando em casa não podemos ter um técnico com tanta reprovação por parte da torcida. O Brasil tem uma safra de jogadores de muito talento que devem chegar ao auge em 2014, como Ganso, Neimar, Mário Fernandes, etc. O planejamento deve ser bem pensado, pois, sendo o anfitrião, o Brasil não terá as eliminatórias sul-americanas como parâmetro.


Texto escrito por Uriel Garber, sobre a participação do escrete no Mundial 2010