“MAIS COMPETÊNCIA E MENOS DINHEIRO PARA DIMINUIR OS ERROS”
F: Falando agora como comentador, considera que actualmente a arbitragem portuguesa está melhor?
JC: Não! Beneficia da restrita regulamentação que foi sendo elaborada e da menor agressividade, garra e determinação dos jogadores. A generalidades dos clubes perdeu aquilo a que se chama mística.
JC: Fala-se muito dos árbitros e dos erros porque cada vez mais a cobertura mediática a isso obriga e a monocultura desportiva da população portuguesa, associada à impreparação da sociedade para discutir outros assuntos conduz à exploração do filão.
F: Acredita que Portugal voltará a estar bem representado de árbitros na UEFA?
JC: Depende como se interpreta “bem representado”. Se for pela qualidade, integridade, equidistância e preocupação em apenas arbitrar um jogo de futebol dentro das regras, não acredito que algum dia tal suceda. Se entendermos “bem representado” como alguém que saiba “movimentar-se”, “insinuar-se”, apaparicar poderes instituídos, subjugar-se aos interesses dos países dominantes, há, inquestionavelmente e há semelhança de tempos recentes quem o saiba fazer muito bem e assim atingir um patamar de relativa consideração.
F: Seja como for, Olegário Benquerença e Pedro Proença são dois dos árbitros portugueses mais conceituados na Europa. Qual a razão para muitas vezes existirem melhores arbitragens fora de portas do que em Portugal?
JC: Digamos antes que são os dois árbitros que neste momento melhor conceito desfrutam, apesar de Portugal possuir nove elementos com insígnias da FIFA. Os restantes sete servem para colmatar “buracos” e aqueles dois chegam até aos oitavos de final e ficam por aí. Os desempenhos ditos melhor conseguidos além fronteiras devem-se, sobretudo, ao nível de atenção e concentração dos árbitros. Um jogo mal conseguido pode determinar o fim do sonho. Internamente, porque a classificação se faz com base na média do efectuado durante a temporada, a descontracção é sempre maior. Além disso, as regras e rigores internacionais exigem muito mais das equipas intervenientes e dos jogadores. Não nos esqueçamos que um jogador, nas competições internacionais, ao segundo amarelo fica fora do próximo encontro, por cá é ao quinto. Refiro isto como pequeno exemplo.
F: Qual seria a melhor solução para resolver esse problema dos erros? Bolas com chip, mais assistentes?
JC: Em minha opinião a solução seria mais competência e menos dinheiro. É histórico e ancestral, desde que o vil metal passou a impor vontades, seja em que actividade for, de imediato se perderam referências éticas, sociais, culturais e, sobretudo de honra.
F: Qual é o melhor árbitro português?
JC: No presente é o Jorge Sousa.
F: Também enquanto comentador não é uma figura consensual.
JC: Naturalmente que não. Não tenho essa veleidade muito simplesmente porque ao comentar recordo inúmeras vezes erros por mim cometidos.
F: Além do mais é também membro da AG do Belenenses, como já referiu. Como concilia tudo isso?
JC: Quem corre por gosto não cansa! Antes de ser comentador e vice Presidente da Mesa da Assembleia Geral de “Os Belenenses”, sou profissional bancário. Procuro corresponder com a maior das dedicações e do melhor modo que sei. É verdade que exige muito, principalmente o cargo de de dirigente no clube por causa da incompreensão e facciosismo doentio de uns quantos mas, para quem foi árbitro durante tanto tempo, tenho poder de encaixe suficiente para compreender determinadas expressões reveladoras da impreparação social do nosso povo.